Logo depois que soube que a mulher misteriosa tinha deixado esse mundo, escutei o primeiro trovão desse ano. Alto, como quem dá um carão na terra, foi assim que ele soou pelos ares. Eu estava falando com meu amor ao mesmo tempo e tive vontade de abraçá-lo. Ela, a mulher misteriosa, partiu livrando-se de muita dor. O corpo definhara e apodrecia. O homem a quem amara e dedicara sua vida, não estava a seu lado. Achei triste, mas não quis julgá-lo. A fuga é o caminho que as pessoas buscam quando a esperança acaba.
De repente soou outro trovão ainda mais forte. Voltei à minha infância, à lembrança de minha mãe desligando os aparelhos eletrônicos e cobrindo espelhos da casa com medo dos relâmpagos... e haja rezar para Santa Bárbara. Depois nos aninhava, a mim e a meus irmãos, e nos dava mingau de neston e farinha láctea. Assim, eu tomava mingau poucas vezes no ano, só mesmo em dia de chuva com trovão.
Voltei à realidade ouvindo os pingos da chuva, atraída pelo cheiro de terra molhada, o bafo quente dessa minha terra tão carente de águas do céu. Ficou um mormaço, uma coisa quente e molhada. Como diria meu avô: "Essa chuva é só para lavar as telhas".
Ps.post escrito ao som de Mrs. Robinson (com cake) e Knocking on heavens door (Bob Dylan)
Um comentário:
sempre choveu muito em minha infancia... havia também um medo... pediamos pra tomar banho na rua... geralmente ouviamos um não... era hora de fugir...
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